Por Jolsemar dos Reis Araújo
****Texto postado originalmente nos extintos blogs da Escola Ministerial de Artes e do MAVIN do Projeto Vida Nova de Irajá(há um atual http://mavinpvni.wordpress.com/) com ligeiras adaptações****
****Texto postado originalmente nos extintos blogs da Escola Ministerial de Artes e do MAVIN do Projeto Vida Nova de Irajá(há um atual http://mavinpvni.wordpress.com/) com ligeiras adaptações****
A palavra 'teatro' vem do grego (theatron) e designa o lugar onde se assiste a um espetáculo, seus espectadores ou o próprio espetáculo. A palavra é etimologicamente formada por théa 'espetáculo, vista, visão' mais o sufixo -tron 'instrumento', significando literalmente 'meio pelo qual se realiza um espetáculo'. Mais que o local, 'teatro' designa a arte do ator e da atriz, a dramatização, a representação e os meios e recursos humanos para a concretização do espetáculo.
Os historiadores da arte assinalam que desde seus primórdios o ser humano usou da dramatização para expressar suas crenças e valores. Entendendo que força e determinação não eram suficientes para assegurar sua sobrevivência, os povos primitivos usavam danças imitativas visando angariar o favor e proteção de Deus ou dos supostos deuses que controlavam todos os fatos necessários à sua sobrevivência (fertilidade, família, êxito nas batalhas, etc). Sendo assim, o teatro em suas origens possuía um caráter religioso, espiritual. Esse teatro primitivo constituía-se de danças dramáticas coletivas que tratavam das várias questões da vida. Ao lado, pintura rupestre em Lérida, Espanha, representando uma dança ritual primitiva. Com o tempo os humanos começam a desenvolver suas crenças e filosofias bem como sua tecnologia e arte. Sem a revelação do Deus bíblico ou dela prescindindo, os homens elaboram mitos, sagas cósmicas politeístas, que visavam explicar a origem, a manutenção e o sentido da vida e passam a dramatizar esses mitos inicialmente através das danças miméticas, isto é, compostas por mímica e música.
Em civilizações mais desenvolvidas, como a egípcia e as mesopotâmicas, os pequenos ritos tornaram-se grandes rituais formalizados. Esses rituais eram a história do mito em ação, isto é, em movimento. Eles propagavam as tradições e serviam como entretenimento. Na Grécia, a partir da evolução da dramatização dos mitos, surge o embrião d teatro moderno. Inicialmente havia o ditirambo, um tipo de procissão informal que servia para homenagear o deus Dionísio (deus do vinho). Ao lado, representação de Dionísio. O ditirambo evoluiu dando origem a um coro onde os componentes cantavam, dançavam e contavam os mitos relativos a Dionísio. A grande inovação deu-se quando se criou o diálogo entre os componentes do coro. Instala-se desta forma a ação na narrativa dos mitos dando origem aos primeiros textos teatrais. Inicialmente faziam-se as representações nas ruas, passando-se para um lugar próprio. E assim surgiram os primeiros teatros. Abaixo, ruínas do teatro de Epidauro, cidade grega.
Em civilizações mais desenvolvidas, como a egípcia e as mesopotâmicas, os pequenos ritos tornaram-se grandes rituais formalizados. Esses rituais eram a história do mito em ação, isto é, em movimento. Eles propagavam as tradições e serviam como entretenimento. Na Grécia, a partir da evolução da dramatização dos mitos, surge o embrião d teatro moderno. Inicialmente havia o ditirambo, um tipo de procissão informal que servia para homenagear o deus Dionísio (deus do vinho). Ao lado, representação de Dionísio. O ditirambo evoluiu dando origem a um coro onde os componentes cantavam, dançavam e contavam os mitos relativos a Dionísio. A grande inovação deu-se quando se criou o diálogo entre os componentes do coro. Instala-se desta forma a ação na narrativa dos mitos dando origem aos primeiros textos teatrais. Inicialmente faziam-se as representações nas ruas, passando-se para um lugar próprio. E assim surgiram os primeiros teatros. Abaixo, ruínas do teatro de Epidauro, cidade grega.
Se o teatro tem suas origens na dramatização de mitos pagãos o que ele então tem a ver coma atual prática das igrejas utilizarem o teatro como veículo de edificação e evangelização?
Nas Sagradas Escrituras vamos encontrar a palavra 'teatro' em duas ocasiões (Atos 19.29,31) significando o local de reunião de uma assembleia, porém na Bíblia não vamos encontrar o teatro no sentido de arte cênica apresentada em local próprio como espetáculo.
No Antigo Testamento, as palavras traduzidas por 'espetáculo' (mar’eh, ro’iy) significam visão, aparência, espetáculo. Há ainda a palavra zeva'ah geralmente traduzida por espetáculo horrendo. Estas palavras estão associadas ao juízo divino: quando Deus trouxer seu juízo será um espetáculo, isto é, algo notório, que servirá de símbolo, exemplo e reflexão (Deuteronômio 28.67; Jeremias 15.4; 29.18; 34.17; Naum 3.6).
No Novo Testamento encontramos a palavra theatron (1Coríntios 4.9) e outras dela derivadas ou correlatas significando 'espetáculo' no sentido de que algo ou alguém está sendo observado por várias pessoas e nelas causa algum efeito (Lucas 23.48; Hebreus 10.33; 12.21). Nos dias de Jesus havia um teatro em Jerusalém ( representação ao lado) construído por ordem do Rei Herodes, o Grande (73 – 4 a.C.), porém para agradar aos romanos. Embora os antigos judeus convivessem com culturas que patrocinavam as artes teatrais como a grega e a romana e em Jerusalém houvesse um teatro, eles não aderiram ou incorporaram à sua liturgia e cultura esse tipo expressão artística principalmente por que muitas das peças teatrais da antiguidade eram repletas de paganismo e sensualidade. Pelo mesmo motivo os primeiros cristãos rejeitaram o teatro até que na Idade Média passaram a utilizá-lo como forma de catequese. No transcurso dos séculos vários grupos cristãos foram utilizarando as artes cênicas como veículo de propagação da fé. Devemos também observar que o fato de algo ser um elemento cultural não-judaico não impede deste ser usado a serviço de Deus. Não é sem razão que Paulo usa a poesia pagã grega para evangelizar (Atos 17.28) e exortar (Tito 1.12,13).
No Antigo Testamento, as palavras traduzidas por 'espetáculo' (mar’eh, ro’iy) significam visão, aparência, espetáculo. Há ainda a palavra zeva'ah geralmente traduzida por espetáculo horrendo. Estas palavras estão associadas ao juízo divino: quando Deus trouxer seu juízo será um espetáculo, isto é, algo notório, que servirá de símbolo, exemplo e reflexão (Deuteronômio 28.67; Jeremias 15.4; 29.18; 34.17; Naum 3.6).
No Novo Testamento encontramos a palavra theatron (1Coríntios 4.9) e outras dela derivadas ou correlatas significando 'espetáculo' no sentido de que algo ou alguém está sendo observado por várias pessoas e nelas causa algum efeito (Lucas 23.48; Hebreus 10.33; 12.21). Nos dias de Jesus havia um teatro em Jerusalém ( representação ao lado) construído por ordem do Rei Herodes, o Grande (73 – 4 a.C.), porém para agradar aos romanos. Embora os antigos judeus convivessem com culturas que patrocinavam as artes teatrais como a grega e a romana e em Jerusalém houvesse um teatro, eles não aderiram ou incorporaram à sua liturgia e cultura esse tipo expressão artística principalmente por que muitas das peças teatrais da antiguidade eram repletas de paganismo e sensualidade. Pelo mesmo motivo os primeiros cristãos rejeitaram o teatro até que na Idade Média passaram a utilizá-lo como forma de catequese. No transcurso dos séculos vários grupos cristãos foram utilizarando as artes cênicas como veículo de propagação da fé. Devemos também observar que o fato de algo ser um elemento cultural não-judaico não impede deste ser usado a serviço de Deus. Não é sem razão que Paulo usa a poesia pagã grega para evangelizar (Atos 17.28) e exortar (Tito 1.12,13).
Não obstante a origem pagã, a essência do teatro, isto é, a dramatização, é encontrada na Bíblia através da liturgia sacerdotal e nos atos simbólicos dos profetas, inclusive os de Jesus. Não bastou a Deus dizer a Abraão que ele seria pai de uma multidão de pessoas. Deus o fez sair da tenda e ver as estrelas e disse: “Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade”(Gênesis 15.5). Deus usou sua arte, as estrelas, para mostrar a Abraão o que Ele pretendia realizar. Não foram suficientes as palavras. Deus quis que Abraão visse. Essa é a essência do teatro na sua origem etimológica: 'ver,' 'algo para ser visto'. O teatro como espetáculo pode ter suas raízes nos cultos pagãos; mas o uso de recursos visuais, de imagens inspiradoras, a dramatização da verdade espiritual, tem sua origem em Deus.
Imagem do telescópio espacial Hubble da NASA: Deus usou a visão do céu estrelado para inspirar a fé de Abraão |
A Liturgia Sacerdotal como Dramatização de Verdades Espirituais
Os Atos Proféticos
Jeremias :
1. Cinto de linho escondido no Eufrates (13.1-11);
2. O oleiro e o barro (18.1-8);
3. A botija quebrada (19.1-13) ;
4. Um jugo no pescoço (27.1-8);
5. Compra do campo do parente (32.6-15);
6. A obediência dos recabitas (35.1-19);
7. As pedras escondidas (43.8-13);
8. Livro jogado no Eufrates (51.63,64).
O profeta Jeremias por James Tissot (1888) |
Ezequiel:
1. Ele representou o cerco de Jerusalém com um tijolo (4.1-3);
2. A fome no cativeiro cozendo pão com excrementos (4.9-17);
3. A destruição pela espada cortando seus cabelos com navalha e os atirando ao vento (5.1-7);
4. A ida do povo ao cativeiro fazendo um buraco na parede para partir com suas mobílias como um deportado.(12.1-11);
5. Com uma espada afiada e polida retratou o juízo iminente sobre Jerusalém (21.1-17);
6. A vitória da Babilônia é retratada pela espada de Nabucodonosor (21.18-23);
7. A queda de Jerusalém é simbolizada pela morte da esposa (24.15-27);
8. A união de Judá e Israel pela escrita do nome de Judá e de Israel em dois bastões (37.15-28).
A Visão de Ezequiel por Rafael (1518) |
Em suma, existe uma base bíblica para o uso do teatro na proclamação da Palavra de Deus.
Ministério de Teatro na Igreja
Tendo em vista o acima dissertado, o teatro tem sim o seu espaço na igreja cristã de hoje como expressão de adoração, edificação e estratégia evangelística. Tal uso pressupõe não apenas a vontade de interpretar, mas também aptidão técnica, trabalho em equipe, aprovação e supervisão pastoral, ou seja, a utilização contínua do teatro na igreja deve ser organizada como um ministério da igreja.
Quando dizemos "deve" não é no sentido de ser "obrigatório", mas no sentido de que uma comunidade de fé que pretenda fazer um uso contínuo desse dom a serviço do Reino necessita organizá-lo com líderes, supervisão, adequação de agendas, capacitação técnica e espiritual. Cada comunidade de fé conhece suas necessidades.
Cristo, na Grande Comissão, nos mandou pregar o Evangelho e fizer discípulos (Marcos 16.9-11; Mateus 28.18-20). O uso ministerial do teatro é uma ferramenta, não obrigatória, não a mais importante, mas de grande valia para cumprir a missão que o Mestre nos deixou.
Pude vivenciar isso em 13 anos (1999-2012) que participei como ator, autor e diretor do grupo teatral do MAVIN (Ministério de Artes Vida Nova) do Projeto Vida Nova de Irajá.
Sou grato a Deus por esses preciosos anos onde vi e vivi a arte a serviço do Reino.
REFERÊNCIAS
Cristo, na Grande Comissão, nos mandou pregar o Evangelho e fizer discípulos (Marcos 16.9-11; Mateus 28.18-20). O uso ministerial do teatro é uma ferramenta, não obrigatória, não a mais importante, mas de grande valia para cumprir a missão que o Mestre nos deixou.
Pude vivenciar isso em 13 anos (1999-2012) que participei como ator, autor e diretor do grupo teatral do MAVIN (Ministério de Artes Vida Nova) do Projeto Vida Nova de Irajá.
Sou grato a Deus por esses preciosos anos onde vi e vivi a arte a serviço do Reino.
REFERÊNCIAS
LOURO, Fabiana. A Origem e Evolução do Teatro. Disponível em: http://liriah.teatro.vilabol.uol.com.br/historia/aorigemeevolucaodoteatro.htm
NOLAND, Rory. O Coração do Artista: construindo o caráter do artista cristão. São Paulo : W4 Editora, 2007.
PETERVELITZ, Luciano R. Introdução ao Profetismo. In: Revista Theos. 5 ed. Vol. 4. Nº 1. Campinas: Faculdade Teológica Batista de Campina, 2008. Disponível em: www.revistatheos.com.br/Artigos/Artigo_05_02.pdf
SCHROER, Silvia; STAUBLI, Thomas. Simbolismo do Corpo na Bíblia. São Paulo: Paulinas, 2003.
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