domingo, 25 de outubro de 2020

origem pagã do teatro

A ORIGEM PAGÃ DO TEATRO É IMPEDIMENTO PARA SEU USO A SERVIÇO DO REINO DE DEUS?

Um comentário do internauta Leandro Dalla ao texto O Ministério de Teatro na Igreja postado no blog do Ministério de Artes Vida Nova do Projeto Vida Nova de Irajá, que é o mesmo que temos aqui no blog da EMART, nos leva mais uma vez a refletir sobre o uso do teatro na igreja. O cerne da crítica é que o teatro é de origem pagã e que não pode ser utilizado na obra de Deus, pois seria como pedir algo emprestado ao Diabo. Respondemos em réplica que o uso de alguma dádiva divina pelo paganismo, não inutiliza essa dádiva para o uso a Deus, dentre outras questões. Segue abaixo, o comentário e minha réplica:

Comentário de Leandro Dalla
É muito triste ler este tipo de artigo. Se o teatro tem uma origem nitidamente pagã e foi criado como um rito para adoração a deuses pagãos, o que podemos encontrar nele para usar para Deus? Pense, por favor, por um momento. Se o teatro foi criado para adoração de deuses pagãos, que tipo de deuses temos adorado hoje em nossas igrejas? É isso que Deus merece? Já está mais do que claro que este recurso não foi criado para adorar a Deus, então estejamos certos que não é aceito por Deus hoje, como nunca o foi. Por que precisamos pedir emprestado ao diabo uma ferramenta para trazer para Deus? Será que Ele aceita isso? Tirar um pouquinho da oferta dada aos ídolos e usar no altar de Deus?
Satanás criou e utiliza essa ferramenta para iludir homens, para emocionalizar as pessoas e destruir o racional, que é onde Deus fala (Romanos 12:1). Então, achamos essa estratégia interessante e trazemos para Deus. Que tipo de oferta é essa? O teatro foi rejeitado pelos judeus, não foi utilizado por Cristo (nosso modelo maior), não foi aceito pelos primeiros cristãos, foi rejeitado pela Igreja Católica devido à sua reminiscência pagã e agora nós somos mais espertos que todos estes, podemos trazer esse lixo para dentro da igreja que Deus vai aceitar, afinal estamos usando no trabalho de Deus. Mas cuidado com a forma como vc faz o trabalho de Deus (leia Mateus 7:22 e 23).
O teatro é tão incompatível com a obra de Deus como o foi desde sua criação. As gerações de cristãos que o rejeitaram sabiam o que estavam fazendo. E hoje nós estamos claramente afirmando que eles eram ignorantes, que rejeitaram uma coisa boa. Estamos colocando em dúvida as bases da nossa fé.
Que Deus nos faça refletir e que prestemos um culto exclusivamente para Ele, não tomando emprestado elementos do diabo, pois Deus não precisa disso.
Réplica de Joalsemar Araújo
Caro Leandro, obrigado por seu comentário, pois ajuda a aprofundar a reflexão bíblica e teológica sobre o uso das artes na igreja. No entanto, com a devida vênia, discordo de seus argumentos por faltar-lhes bases bíblicas e históricas. Senão vejamos:
Você afirma que o teatro não pode ser usado na igreja por que surgiu em adoração a deuses pagãos. Porém, o uso de alguma coisa nos cultos pagãos não invalida por si só o uso dessa coisa no culto a Deus. A circuncisão, o oferecimento de animais, o uso de tabernáculos, arcas sagradas e templos são anteriores a Abraão e aos judeus e foram usados pelos povos pagãos. Inicialmente, não foram criados para se adorar a Deus. No entanto, tudo isso foi usado no culto ao Deus único e verdadeiro. O Diabo não é criador nem dono de nada, “pois do Senhor é a terra e sua plenitude” (Salmo 24.1). O homem no seu livre-arbítrio, mas enganado pelo Inimigo, pode oferecer o uso dos dons e dádivas dados por Deus ao Diabo. Se tudo o que o paganismo usar for proibido aos filhos de Deus não poderemos fazer muito coisa e teremos que voltar à Idade da Pedra, pois não poderemos utilizar facas, pois essas são usadas em rituais pagãos; não poderemos criar e comer certos animais, pois ainda hoje eles são oferecidos aos falsos deuses, etc. Seguindo o seu raciocínio, não poderemos usar rádio, TV, internet, livros, pois esses veículos de comunicação também são usados para propagar paganismo, pornografia, pedofilia, ateísmo…

Aliás, o Apóstolo Paulo usou de textos pagãos para pregar o Evangelho e para edificar a Igreja:
Atos 17.28: “Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração.” Paulo cita aqui versos da obra Fenômenos de Arato, poeta da Cilícia, terra na qual Paulo fora criado. O poema afirma que todas as coisas devem sua existência a Zeus, deus máximo do panteão grego. Mesmo assim, o judeu, cristão, apóstolo de Cristo Paulo usa esses versos como ponto de contato para contextualizar a mensagem de Deus.

1 Coríntios 15.33b: “ As más conversações corrompem os bons costumes.” São versos do poeta Menandro, autor grego e pagão de textos teatrais. Veja o Apóstolo Paulo usando o teatro para ensinar.

Tito 1.12 “Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos”. Paulo cita Epimênedes de Cnossos, poeta pagão de Creta.

Em Atos 17.23 Paulo toma por referência um altar pagão para anunciar o Deus verdadeiro.
Paulo não está pedindo nada emprestado ao Diabo, pois esse não é dono de nada. Paulo está usando o princípio da contextualização a qual ele explica muito bem em 1Coríntios 9.19-23:
Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele.”

O texto de Romanos 12.1 por você citado só confirma que devemos usar o teatro a serviço de Deus, pois o texto diz que o culto racional é oferecer nossos corpos a Deus. E é isso que o teatro cristão faz. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1.17). Portanto usemos o dom artístico a serviço do Evangelho: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pedro 4.10).

Quando você afirma que o teatro foi rejeitado pelos judeus esquece que o que os judeus rejeitaram foi o uso pagão do teatro, pois os profetas, em especial Ezequiel e Jeremias, usavam a dramaturgia para apresentar a palavra de Deus aos homens. E é neles que o teatro cristão se inspira bem como nos rituais levíticos que eram dramatizações das verdades espirituais da redenção e perdão dos pecados. Leia as referências no texto que você comentou. Além disso, os judeus ao longo dos séculos foram utilizando o teatro principalmente a partir da festa do Purim encontrando seu maior desenvolvimento a partir da Idade Média em diante.

Quanto a Jesus Cristo, nosso modelo, ele interpretou o papel de um escravo em João 13.1-17 mostrar como devemos servir uns aos outros. Não bastou a Jesus falar; ele teve que teatralizar seu ensino. Jesus usou das parábolas, as quais evocam imagens na mente, o é um dos princípios do teatro: o uso da imagem cênica para transmitir uma mensagem.

Por isso é destituída de base sua afirmação de que o teatro é incompatível com a obra de Deus. Pelo contrário, além da Bíblia que fundamento o uso do teatro, nos onze anos em que atuo com teatro na igreja vi Deus realizar coisas tremendas na vida de pessoas, principalmente se converterem ao Senhor Jesus que é o maior milagre de todos.

Você afirma que a Igreja Católica rejeitou o teatro, mas essa sua afirmação não tem base histórica. O teatro foi largamente usado pela Igreja Católica desde a Idade Média e nos dias de hoje para propagar suas doutrinas. Um conhecimento básico da história do Brasil verifica que os jesuítas usaram largamente o teatro para divulgar o catolicismo. O uso do teatro para propagar a fé e ensiná-la, não é nenhuma novidade moderna, pois desde a antiguidade o povo de Deus usou da dramatização para fazer a obra do Senhor.

Portanto sua argumentação não tem base bíblica nem histórica. Os judeus usaram a dramatização, os católicos também, e o fato do teatro moderno ter se originado no paganismo não proíbe seu uso, pois o uso errado de algo, não proíbe o uso certo como comprova a Bíblia.
TEXTO publicado originalmente no Blog do MAVIN: http://www.projetovidanova.com.br/blog/mavin/?p=54

ministério de dança

O MINISTÉRIO DE DANÇA NA IGREJA

O uso da dança nos cultos religiosos remonta à própria origem da dança. Seu uso na liturgia cristã, principalmente a protestante, é muito recente e polêmico. Embora a dança faça parte da liturgia do Antigo Testamento e não haja nada no Novo Testamento que seja contra sua utilização no culto cristão, muitos levantam objeções à participação da dança na adoração coletiva do Povo de Deus, quais sejam:

Não há base bíblica para a utilização da dança no culto;
Não há base bíblica para um ministério de dança;
Há maus testemunhos concernentes a pessoas envolvidas com um ministério de dança.

Para essas objeções, no entanto, há respostas adequadas à luz da Bíblia, da História e da Teologia.

1. A DANÇA NA BÍBLIA E EM SEU CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL
Um dos equívocos mais comuns ao se procurar fundamentar ou não na Bíblia o uso da dança na liturgia da igreja de hoje é o apenas caçar as referências à palavra dança e seus cognatos ("dançavam", "dançou", etc.). Na maioria das vezes, a menção bíblica a instrumentos de percussão (adufes, tamborins, címbalos, etc.) indica também o ato de dançar já que a função desses instrumentos era marcar o ritmo da dança. Um exemplo: "Os cantores iam adiante, atrás, os tocadores de instrumentos de cordas, em meio às donzelas com adufes" (Sl 68.25). Donzelas com adufes, isto é, tambores, são uma clara indicação de dança (Êx 15.20;1Sm 18.6). Pode-se incluir também a flauta (Mateus 11.17: "Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes"). A Arqueologia tem descoberto nas terras bíblicas várias estatuetas de terracota que ilustram mulheres com instrumentos de percussão. Acima, estátuas de músicos de terracota: veja-se a mulher com o adufe.
Também a expressão "saltar de júbilo/alegria" pode indicar "dançar" como em Eclesiastes 3:4 ("tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria") onde a expressão é traduzida por "dançar" na Septuaginta [1]("orchesastai", dançar) e na Versão Brasileira[2] ("tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar").

A dança, isto é, a expressão de alegria por movimentos rítmicos dos membros do corpo ao acompanhamento musical, é mencionada na Bíblia como parte da vida social e da adoração do povo de Deus. Não podemos nos esquecer que a vida social dos israelitas, o povo de Deus da Antiga Aliança, era toda regulada pela Lei divina não havendo uma grande separação entre o cultural e o religioso, entre o social e o espiritual. Como registro de dança como evento meramente social temos os exemplos: Jz 21.21, 23; 1Sm 18.6; Jó 21.11; Ec 3.4; Mt 11.17; Mt 14.6; Lc 15.25. Embora não apareça a palavra dançar em Ct 3.11; Is. 61.10; Gn. 24.61, a dança está implícita nos costumes de casamento aí aludidos: a dança era feita de maneira processional até a casa do noivo pela noiva e suas damas. Mais tarde na cerimônia havia uma tradicional dança em volta do noivo e da noiva.

Estranhamente, há pessoas que insistem em dizer que a dança não era usada no culto a Deus. Contra isso há as claríssimas evidências bíblicas:
Êx 15.20,21 – A dança de Miriam e das mulheres israelitas foi feita em louvor a Deus. Ao lado, ilustração de Miriam e as israelitas dançando.
2Sm 6.1-23 – O translado da arca da Aliança foi um ato de culto e não um evento social: foi perante o Senhor que Israel e o Rei Davi se alegraram (vv.5, 21).
Sl 81.1-3 – A Neomênia (Festa da Lua Nova) era celebrada com tamborins, portanto, com danças.
Sl 68.24-29 - Num cortejo/procissão de culto ao Senhor é mencionada a presença de donzelas com adufes, uma clara indicação de dança litúrgica.
Sl 149.3 – O texto convida imperativamente que se louve a Deus com dança. A versão que traz "flauta" em vez de "dança" não está correta de acordo com o texto original (maĥul, "dança" em hebraico) e outras traduções.
Sl 150.4 – O salmo é um convite imperativo a todos os seres vivos de louvar a Deus com os instrumentos musicais e com dança.

Em síntese, o Antigo Testamento registra que a dança foi usada pelo povo de Deus para celebrar acontecimentos familiares, sociais e cultuais, isto é, foi empregada também na adoração a Deus.

No Novo Testamento só encontramos referências diretas a dança em poucas passagens e se referem claramente a eventos sociais (Mt 11.17; Mt 14.3; Mc 6.22; Lc 7.32; Lc 15.25). Mas há referências indiretas, pois o Novo Testamento registra muitas festas sociais e religiosas dos judeus das quais participavam Jesus e os primeiros cristãos, os quais eram judeus. Por exemplo, o casamento, que era uma festa com danças, dele participou Jesus e seus discípulos(Jo 2.1-11). Nas festas religiosas que tinham dança, como a dos Tabernáculos, evidentemente Jesus e os primeiros cristãos, como participantes da vida religiosa judaica, também dançavam. Em aramaico, a língua semítica falada por Jesus, exultar e dançar são referidos pela mesma palavra; sendo assim a New English Bible (a Nova Bíblia Inglesa) traduz Lucas 6.23 (“rejoice and dance for joy") por “alegre-se e dançe de alegria.” Original grego traz skirtesate, isto é, saltar, refletindo assim, a língua materna de Jesus.

O fato do Novo Testamento não mencionar a dança como expressão de adoração não é surpreendente, já que o mesmo não especifica nenhuma liturgia, embora fale de adoração e de sua essência. Nada no Novo Testamento proíbe a dança como expressão de adoração a Deus. 


2. MINISTÉRIO DE DANÇA
Embora o povo de Deus no Antigo Testamento incluísse a dança na sua adoração a Deus e o Novo Testamento não a proíba, algumas pessoas são contra não só quanto à utilização da dança na adoração quanto mais ainda em relação a existência de um ministério voltado para a dança. Dizem que ainda que o Antigo Testamento apóie a dança como uma expressão de adoração, ele não serve para dar apoio a tal ministério hoje; além disso, o Novo Testamento nada fala de danças na adoração cristã muito menos de um ministério de dança.

Quanto a isso, cumpre observar o seguinte:
O Novo Testamento tem cinco listas de dons e ministérios (1Coríntios 12.28; 1Coríntios 12.29-30; 1Coríntios 12.8-10; Romanos 12.6-8; Efésios 4.11; 1Pedro 4.10,11). Muitos dons e ministérios são repetidos, outros citados uma só vez, outros não tem títulos sendo antes ações: exortar, contribuir, exercer misericórdia ou simplesmente servir como expressa o texto de 1Pedro 4.11. Disso se conclui que o Novo Testamento não tem uma lista definitiva e limitada do número de ministérios que deve haver na igreja de acordo com sua necessidade. O diaconato não surgiu de uma revelação divina; houve a necessidade de se levantar pessoas para essa função (At 6.1-7). Tanto é assim que todas as denominações têm ministérios ou departamentos que não são citados no Novo Testamento: Ministério de Música, Tesouraria, Ministério Infantil, Sociedades Femininas, Masculinas, Círculo de Oração, Mocidade, etc. Quantas são as necessidades da igreja tantos são seus departamentos ou ministérios. E todos terão base bíblica já que a essência de um ministério é um serviço prestado a Deus e aos seus. Dançar, como qualquer arte, é um dom divino. "Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança" (Tiago 1.17). Portanto podemos utilizar esse dom a serviço do Evangelho: "Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1 Pedro 4.10).Em síntese, o fato do Novo Testamento não falar de um ministério de dança não impede que haja tal ministério da igreja. Abaixo, ministras de Dança do Projeto Vida Nova de Irajá.

O fato de não haver menção no Novo Testamento à dança na liturgia cristã não impede desta ser utilizada, já que o mesmo não fala também de instrumentos musicais e eles também são utilizados na adoração cristã hoje. No Novo Testamento há espaço para qualquer expressão litúrgica desde que haja decência e ordem (1Co 14.40).
O fato da dança ter maior referência no Antigo Testamento do que no Novo, não impede seu uso na adoração cristã; o mesmo sucede com o ministério de música já que no Novo Testamento também não há referência a este ministério, e sim no Antigo Testamento. Tal é a influência do ministério de música do Antigo Testamento sobre os ministérios de música atuais que o músico cristão é chamado de "levita". Isso não tem problema já que os primeiros cristãos usaram a linguagem do Antigo Testamento para entender, explicar, aplicar e anunciar Jesus Cristo e sua obra bem como para definir a própria identidade cristã: novo Israel, eleitos, santos, remidos, povo peculiar (Gl 6.16; 1Pe 2.9-10; Tt 2.14, etc.).
Tendo em vista o acima dissertado, a dança tem sim o seu espaço na igreja cristã de hoje como expressão de adoração e estratégia evangelística. Tal uso pressupõe não apenas a vontade de dançar, mas também aptidão técnica, trabalho em equipe, aprovação e supervisão pastoral, ou seja, a utilização contínua da dança na igreja deve ser organizada como um ministério.

3. MAUS TESTEMUNHOS
quem diga que há muitos maus testemunhos em relação ao ministério de dança havendo mais "salomés" do que "mirians". Salomé e Miriam são duas referências bíblicas na área da dança. Salomé, segundo o historiador judeu Flávio Josefo, era a filha de Herodias que dançou para satisfazer a cobiça de Herodes e que resultou na morte de João Batista (Mt 14.13-11). Miriam era profetisa e irmã de Moisés e dançou em louvor a Deus (Ex 15.20,21). Assim como há maus pastores, diáconos, músicos, assim há maus ministros de dança. Não se pode julgar uma prática pelo mau uso dela; se for assim não teremos mais nenhum ministério na igreja. Em entrevista à revista evangélica Enfoque Gospel (julho/2008) sabiamente afirma Isabel Coimbra (imagem acima), referência em dança litúrgica, que "pessoas santas e ungidas produzirão entre seus frutos bons, danças santas e ungidas! Quando isso acontece, as resistências vão caindo e, em vez de opositores, vamos ganhando intercessores!"[3]. Se há aqueles em que "liras e harpas, tamboris e flautas e vinho há nos seus banquetes; porém não consideram os feitos do SENHOR, nem olham para as obras das suas mãos"(Is 5.12), há aqueles que como Davi dançam "com todas as suas forças diante do SENHOR"(2Sm 6.14).

4. CONCLUSÃO
Podemos concluir que não há nenhum impedimento bíblico para o uso da dança na adoração cristã e nem da organização dela em um ministério. Não podemos esquecer o alvo de todo e qualquer ministério: "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" (1 Coríntios 10.31).

NOTAS:

[1] Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica para o grego koiné, língua franca do Mediterrâneo oriental nas épocas helenística e romana. É a mais antiga tradução da Bíblia e foi realizada em etapas entre o terceiro e o primeiro século a.C. em Alexandria. A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois reza a tradição que setenta e dois rabinos trabalharam nela e teriam completado a tradução em setenta e dois dias. A Septuaginta foi usada como base para diversas traduções da Bíblia e ainda é referência na crítica textual do Antigo Testamento.
[2] A chamada Tradução Brasileira da Bíblia (também conhecida como Versão Brasileira ou Edição Brasileira) foi editada no início do século XX. Entre as características de sua tradução são a literalidade ao texto utilizado e a colaboração de vários eruditos brasileiros dentre eles Rui Barbosa, José Veríssimo, Heráclito Graça e Eduardo Carlos Pereira.
[3] Veja a matéria Pode ou não pode de Diana Duque em http://www.revistaenfoque.com.br/index.php?edicao=84&materia=1121


REFERÊNCIAS:
BÍBLIA ONLINE 3.0: Módulo Avançado. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1 CD-ROM.
MATOS, Gisela M. Kohl. Propostas de Dança na Bíblia. Disponível em:
http://www.dancapelasnacoes.com.br/v3/estudos/detalhes.aspx?idEstudo=15
MONRABAL, María Victoria Triviño. Música, Dança e Poesia na Bíblia. São Paulo: Paulus, 2006.
QUICK, Elizabeth. Women’s Prophetic Drumming Tradition.Disponível em: http://bethanymagdalene.blogspot.com/2007/02/ancient-and-contemporary-female.html

dança ou flauta

DANÇA OU FLAUTA?
Que preconceitos há por trás de uma tradução?

Por Dc. Joalsemar Araújo
Uma das questões mais debatidas na questão da utilização da dança na liturgia das igrejas evangélicas é o que realmente diz os salmos 149.3 e 150.4, já que em muitas versões aparece palavra ‘flauta’ em vez de ‘dança’. Os que defendem a dança litúrgica se embasam nesses versículos para legitimar sua prática e os que refutam a dança litúrgica sempre levantam a dúvida (e muitas vezes sua certeza) de que a o termo em questão se refere a flauta.

As Traduções
Nas versões da tradução de João Ferreira de Almeida (1628-1691), a mais querida e popular no meio evangélico, encontramos o seguinte: A versão Revista e Corrigida, edições de 1969 e 1995, traz a palavra ‘flauta’ no salmo 149.3; e no salmo 150.4, a de 1969 traz ‘dança’ e de 1995, ‘flauta’. Mas isso não se dá com outras versões em português. A antiga Tradução Brasileira (1917) e a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (2000) trazem ‘dança’ em ambos os versículos bem como versões de editoras católicas em português como famosa Bíblia de Jerusalém (1985) e a Tradução Ecumênica da Bíblia (1994). Em outros idiomas encontramos o equivalente a ‘dança’ em vez de ‘flauta’: Por exemplo, na King James Version (edição de 1769) temos a palavra inglesa dance(dança) e em francês encontramos danse (dança) na versão de Louis Segond (1910) para ambos os versículos.
Ilustração de João Ferreira de Almeida e
logomarca da Sociedade Bíblica do Brasil
O Texto Original
Mas o que diz o texto original em hebraico? No texto original temos a palavra machol que significa 'dança' e é originária de uma palavra que indica ‘girar’, 'movimentar-se em círculo’. Será que a palavra não se referiria ao uso de um tipo de flauta que se deveria tocar dando voltas ou girando o instrumento como alguns argumentam? Não. Ela se refere mesmo a dança. Vejamos:

  •            a) A palavra hebraica padrão para flauta é ugav. Há também a palavra chaliyl que indica flauta ou pífaro (Isaías 30.29). Não há referência que indique machol como flauta;
  •           b) A dança judaica era e é caracterizada pelo movimento circular e por grupos de pessoas que dançam em círculo; até no hebraico moderno machol significa 'dança';
  •            c) A mais antiga tradução da Bíblia hebraica, a Septuaginta, traduz em ambos os versículos machol por chorós, isto é, ‘dança’ no que foi seguida pelas versões posteriores como a Vulgata Latina.
Se no texto original e na maioria das traduções antigas e modernas prevalece a palavra ‘dança’ por que se encontra ‘flauta’ em outras versões?

Judeus ortodoxos dançando
Preconceito?
Entendo, com pesar, que o motivo da troca de ‘dança’ por flauta’ em algumas versões da Bíblia em detrimento do texto original é o preconceito contra a dança na liturgia cristã. Por que tendo as evidências do texto original, do contexto histórico e cultural a palavra foi traduzida de modo diferente? Infelizmente, isso não é novidade na história do texto da Bíblia. A perícope da Mulher Adúltera (João 7.53 – 8.11), embora reconhecidamente inspirada por Deus, não fez parte por um bom tempo do cânon da Bíblia. Os manuscritos mais antigos do evangelho de João disponíveis não a trazem bem como os mais antigos códices bíblicos. Além disso, alguns manuscritos trazem a perícope no evangelho de Lucas (cujo estilo é mais similar a perícope do que o de João) ou no fim do evangelho de João. Praticamente só a partir do início da Idade Média é que os manuscritos começaram a reproduzir a história da Mulher Adúltera no evangelho de João e assim permaneceu. Alguns estudiosos da crítica textual do Novo Testamento que concluem que o texto é uma peça antiga e autêntica da vida de Jesus, mas que não foi escrita por João e demorou-se a fixar-se no cânon bíblico.
 
Cristo e a Mulher Adúltera:
Ilustração de 1865 do célebre Gustave Doré

Não está em questão sua historicidade ou inspiração divina, a qual o texto emana. Há testemunhos dos primeiros cristãos (Pápias no século II e a Didascália dos Apóstolos no século III) de que a história da Mulher Adúltera era bem conhecida dos cristãos e usada como exemplo da bondade do Senhor.
Mas por que houve tanta demora (ou resistência?) a que esse registro de um episódio tão significativo da vida de Cristo fizesse parte da Bíblia? O conceituado biblista Joachim Gnilka nos dá uma indicação valiosa:

Mas a resistência que podemos observar contra ela, e que tornou sua aceitção tão problemática, está relacionada com seu objetivo. Para muitos a história pareceu escandalosa. A bondade de Jesus para com uma pecadora foi sentida como uma coisa capaz de provocar escândalo. Dificilmente se poderá encontrar outra explicação para esta situação”[1].

O teólogo Wilson Paroschi, especialista em Crítica Textual do Novo Testamento, afirma:

Com respeito à demora em ser aceita pelos cristãos em geral, essa poderia muito bem ser atribuída à rígida disciplina eclesiástica para com o adultério, uma vez que a narrativa revela que Cristo perdoou muito facilmente a mulher; somente quando a disciplina adotou métodos menos intolerantes, após o século IV, foi que a igreja teria estado disposta a aceitá-la” [2].

Creio que o que aconteceu a história da Mulher Adúltera foi o que aconteceu com a substituição de ‘dança’ por ‘flauta’. O medo do escândalo que pode causar a dança no culto. O gosto pessoal de tradutores e comentaristas interferiu na tradução. O não gostar de dança ou de não gostar de associá-la a Deus interferiu na tradução em detrimento do texto original e em detrimento do próprio gosto de Deus (não é ele o alvo da liturgia?) já que o Antigo Testamento mostra com clareza que Deus era adorado com danças.

Conclusão
O intuito desse texto é esclarecer quanto à questão do que diz o texto original dos salmos 149.3 e 150.4 bem como protestar contra a manipulação preconceituosa do texto bíblico. O texto original e a maioria das traduções (só citamos alguns exemplos acima) trazem ‘dança’ e não ‘flauta’. O objetivo não é tornar a dança litúrgica obrigatória para todas as denominações evangélicas, as quais têm liturgias próprias e diferentes orientadas por suas tradições históricas e líderes locais, mas contribuir para a aceitação da dança litúrgica nas várias formas de adoração ao Criador como expressas na Bíblia, tal qual testemunhadas na Bíblia.
O rei Davi dançando em adoração a Deus

NOTAS
[1] GNILKA, Joachim. Jesus de Nazaré: Mensagem e História. Editora Vozes: Petrópolis, 2000, p.107.
[2] PAROSCHI, Wilson. Crítica Textual do Novo Testamento. Edições Vida Nova: São Paulo, 1993, p.205.

terça-feira, 1 de abril de 2014

CONGRESSO RIO ARTES 2014 ABRE INSCRIÇÕES


"Entre os dias 30 de abril e 4 de maio acontecerá no Rio de Janeiro o “Rio Arte 2014″, voltado para quem trabalha com artes na igreja. 

Durante esses dias acontecerão palestras voltadas para o treinamento e capacitação em Artes Visuais, Canto Popular, Cinema, Circo, Dança, Libras, Quadrinhos e Teatro. O congresso acontece anualmente sendo organizado pelo Ministério Cia de Artes Hupernikao que há quatro anos tem usado diversas artes para levar o amor de Deus. 

Temos a certeza de que nesses dias a sua vida, e o seu ministério serão transformados através da presença, e do poder de Deus, em cada aula e em cada culto”, dizem os realizadores. Percebendo o crescimento do uso das artes nas igrejas, o grupo Hupernikao tem se preocupado com a qualidade para que sejam apresentados trabalhos com excelência que glorifiquem e exaltem a Deus, foi por esse motivo que eles criaram o congresso. 

O Rio Arte é mais uma oportunidade de juntarmos as nossas forças, superarmos limites, e fazermos a diferença, apresentando o Reino de Deus e revelando a Sua glória1″, afirma a Cia de Artes.

Para participar do evento se inscreva pelo site www.huper.com.br onde você encontra também todas as informações sobre o evento." 

FONTES:

 http://noticias.gospelprime.com.br/congresso-rio-arte-2014/ 

http://gospelhoje.com.br/congresso-rio-arte-2014-abre-inscricoes/#.Uztpx_ldWAU

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O ESQUETE

Introdução
Uma das manifestações teatrais mais usadas pelos ministérios de artes das igrejas é o esquete. Inicialmente devemos salientar o seguinte: diz-se o esquete e não a esquete, como tantas vezes se fala e que não deve ser confundido com enquete (pesquisa de opinião). A palavra esquete vem do inglês sketch que inicialmente designava um esquema preliminar representando os principais traços de um objeto ou de uma cena. A palavra inglesa, por sua vez, veio do holandês schets que veio do italiano schizzo que literalmente significa 'salpico, mancha , esboço'. A palavra é derivada de schizzare 'salpicar, esguichar, jorrar líquido', de origem onomatopéica. O termo também é aplicado a rascunhos de pinturas e desenhos de um modo geral.
No teatro, o termo esquete é muito usado para se referir a pequenas peças ou cenas dramáticas, geralmente cômicas,  com cerca de dez minutos de duração. Alguns autores já os consideram como peças propriamente ditas quando dura mais de dez minutos. Muitas vezes os esquetes são marcados pela improvisação e pela dinâmica rápida; dependendo do propósito, outros têm um roteiro rígido a ser seguido, embora de curta duração. Inicial e majoritariamente o esquete está ligado ao gênero cômico e é popularizado em programas humorísticos televisivos. Porém, nada impede do esquete ser utilizado com outros gêneros ou para além do entretenimento: o esquete pode ser utilizado para comunicar idéias sociais, políticas e espirituais.)
Esquete "O Bêbado no Velório"
Esquete Bêbado no Velório um dos que compõe o espetáculo Noite do Riso
 apresentado no Projeto Vida Nova do Caju,  Rio de Janeiro (2009)

Origens
O esquete tem suas origens nos espetáculos do gênero vaudeville e music hall onde um grande número de atos teatrais breves, mas humorísticos, eram apresentados e reunidos para formar um programa maior. O vaudeville foi um gênero de entretenimento de variedades predominante nos Estados Unidos e Canadá do início dos anos de 1880 ao início dos anos 1930. Desenvolvendo-se a partir de muitas fontes, incluindo salas de concerto, apresentações de cantores populares, circos de "horror" (com exibição de pessoas com deformidades genéticas), museus baratos e literatura burlesca, o vaudeville tornou-se um dos mais populares tipos de empreendimento dos Estados Unidos. A cada noite, uma série de números era levado ao palco, sem nenhum relacionamento direto entre eles. Entre outros, músicos (tanto clássicos quanto populares), dançarinas e dançarinos, comediantes, animais treinados, mágicos, imitadores de ambos os sexos, acrobatas, peças em um único ato ou cenas de peças, atletas, palestras proferidas por celebridades, cantores de rua e até pequenos filmes.
O boneco Garland e artistas de um espetáculo vandeville (1932), EUA.

O Music hall é uma forma de entretenimento teatral de origem britânica, muito popular entre 1850 e 1960, e definido como uma mescla de música popular, comédia e participações especiais. O termo também está associado aos teatros onde ocorriam as apresentações bem como às peças musicais nestes espetáculos. O music hall britânico é similar ao teatro de revista do Brasil e de Portugal, ou ao vaudeville dos Estados Unidos.

O esquete quer tenha o gênero cômico ou de drama espiritual é uma poderosa ferramenta sob a unção do Espírito Santo no uso da comunicação do Evangelho através da arte.

REFERÊNCIAS

Vaudeville artigo da Wikipédia, a enciclopédia livre (http://pt.wikipedia.org/wiki/Vaudeville)

Music Hall artigo da Wikipédia, a enciclopédia livre (http://pt.wikipedia.org/wiki/Music_hall)

Sketch Comedy http://en.wikipedia.org/wiki/Sketch_comedy